“Se o público não entende, ele não adere”. Essa frase resume um dos maiores desafios da Previdência Complementar: a comunicação. Por mais robusto e vantajoso que seja o plano, se a linguagem for técnica demais ou distante da realidade do participante, o interesse desaparece antes mesmo de começar.
No artigo abaixo, compartilho reflexões sobre a importância da linguagem simples e acessível para ampliar o alcance da Previdência Complementar e engajamento consciente.
A adesão à Previdência Complementar ainda enfrenta uma barreira invisível, porém poderosa: a complexidade da linguagem. Muitos participantes em potencial desistem antes mesmo de começar — não por falta de interesse, mas por não compreenderem as regras, os benefícios e o funcionamento do plano. Uma comunicação simples, acessível e empática é mais do que desejável: é estratégica.
A comunicação é uma habilidade essencial para a convivência, ela permite a troca de ideias, percepções, convicções, informações. Uma boa comunicação fortalece ideias e promove o entendimento entre quem transmite a quem escuta. Em um mundo cada vez mais conectado e em constante mudança, comunicar-se com clareza, empatia e propósito se tornou uma das competências mais valorizadas em todas as áreas da vida.
O ponto de partida, portanto, é observar quem irá receber a mensagem, entender qual a melhor forma para se comunicar. Suponhamos que estejamos em um evento de RH de uma empresa, onde vários recém contratados estão recebendo um treinamento sobre os benefícios trazidos pela empresa, e dentre eles, está o Plano de Benefícios oferecido pela empresa. Seguindo para a apresentação do plano, quem detém a palavra deve partir do pressuposto que quem está assistindo é leigo no assunto e aprenderá basicamente do zero, sendo assim, deve-se explicar o teor do plano da maneira mais simples e didática possível.
O locutor não pode dar início a apresentação falando nomenclatura de quem está na área há anos, como por exemplo: reserva matemática, salário de participação, entre outras. Ele deve introduzir o conteúdo e nomenclaturas depois de explicar o panorama do plano e o que cada nome significa dentro do cenário apresentado, para que desta forma o possível participante esteja engajado e entendendo o que está sendo oferecido a ele.
O comunicador deve apresentar o plano de maneira a trazer o interesse do receptor, fazer com que ele veja que a contribuição que ele fará irá retornar para ele no futuro quando ele mais precisará. Informar apenas o necessário, por vezes até de forma interativa como imagens, fluxogramas ou até vídeos explicativos. Caso contrário, o possível novo participante não se sentirá atraído a contribuir com o plano, muitas vezes não porque a previdência complementar não lhe parece boa, mas simplesmente por não entender do que se trata e por isso não lhe investir na sua aposentadoria que está “tão longe”.
Além do pressuposto de que quem está do outro lado não é um especialista em previdência complementar, devemos entender com quem estamos nos comunicando. Se eu estou falando com uma pessoa da que nasceu em 2000, por exemplo, ela não vai se interessar em receber as informações pelos correios, ou em um panfleto, ela se engajará mais por meio de mídias sociais, e-mail ou até mesmo whatsapp, com atendimento de uma IA. Por outro lado, alguém que está à beira da aposentadoria, muitas das vezes pode preferir receber suas informações pelos correios, e não por aplicativos no celular onde eles não têm muita intimidade para navegar.
Esse direcionamento de linguagem simples nas entidades fechadas de previdência complementar no momento de se conectar com o futuro participante se estende também para o participante atual que já está no plano. Muitas vezes a entidade é obrigada por lei, ou por boas práticas de governança, comunicar os participantes, por exemplo, de uma alteração de regulamento no plano de benefícios. Neste comunicado a entidade deve colocar o que foi alterado no regulamento de forma simples e, se possível, também expor como estava o regulamento antes das alterações aprovada.
Isso além de boa prática de governança corporativa, transparência, é também comunicação efetiva. De forma bem objetiva, temos algumas práticas recomendadas para simplificar a linguagem da previdência complementar:
• Métrica de compreensão: adapte o vocabulário ao seu público: inicie do básico (“o que é plano”, “como funciona”) antes de introduzir termos como “reserva matemática” ou “salário de participação”;
• Ferramentas visuais: use gráficos simples, fluxogramas e pequenos vídeos para explicar processos — esses recursos reduzem a sobrecarga cognitiva e tornam a mensagem mais convidativa;
• Segmentação de público: jovens preferem canais digitais (WhatsApp, redes sociais), enquanto públicos maduros valorizam canais tradicionais (cartas, e-mail). Escolher bem o canal aumenta o alcance e a eficiência da comunicação;
• Transparência nas mudanças: alterações de regulamento devem ser comunicadas com comparativos “antes e depois”, evitando o uso de linguagem burocrática e promovendo a autonomia do participante.
• A adoção do Visual Law é mencionada como prática cada vez mais comum nas entidades, com webinars voltados à simplificação visual de temas complexos.
Portanto, a comunicação simples não significa um vocabulário raso, ou falta de conhecimento e sim uma linguagem acessível ao público geral, devemos adaptar a nossa linguagem técnica do mundo da previdência complementar para a linguagem simples, do dia-a-dia, possibilitando uma comunicação efetiva. Esse entendimento deve partir de nós do lado de cá da comunicação, quando compreendermos e implementarmos a comunicação simples para fomentaremos cada vez mais a previdência complementar e trazer principalmente o público jovem para os planos de benefícios das entidades.
Referências:
• Guia de Referência – Política de Comunicação nas EFPCs. Disponível em: br+15abrapp.org.br+15blog.abrapp.org.br+15.
• Legal Design e visual law: Redesenhando a advocacia. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/432933/legal-design-e-visual-law-redesenhando-a-advocacia
• Novo episódio do podcast “Futuro em Foco” – Disponível em. https://blog.abrapp.org.br/blog/novo-episodio-do-podcast-futuro-em-foco-aborda-linguagem-simples-na-previdencia-complementar/